Supermercados criam medidas contra aumento de cestas básicas em Manaus

Foto: Divulgação

Com a proximidade das festas de fim de ano, uma das principais preocupações do brasileiro está ligada ao valor da cesta básica. De acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), no final de outubro, por exemplo, o preço para garantir o pão de cada dia na mesa, voltou a subir em 16 das 17 capitais do país incluídas na pesquisa.

Florianópolis (R$ 700,69), depois São Paulo (R$ 693,79), Porto Alegre (R$ 691,08) e Rio de Janeiro (R$ 673,85) foram as cidades que mais sentiram o impacto da alta dos preços.

Em Manaus, o valor pode chegar até R$ 618 (considerando uma cesta mais ‘recheada’) e o açúcar é um dos grandes vilões, com uma alta de 8,2%, seguido do frango, com 4,2%, e do café em pó, com 3,6%.

Momentos de “terror”

Desde que soube dos reajustes, a aposentada Francisca Pimentel, de 69 anos, moradora do bairro Mauazinho, Zona Leste de Manaus, afirmou não ter tido paz.

“É todo dia pensando o que vamos comer! Aqui em casa, eu já conto o pão, a concha de feijão e o arroz. Agora, vou ter que contar a colher de açúcar e até o pó de café. Pelo amor de Deus! Ajudo a cuidar de três netos de 8, 10 e 12 anos, enquanto minha filha trabalha em uma padaria aqui perto. Meu salário de aposentada e o salário dela não cobre tanta despesa. Fora a água, a luz e a boca de todo mundo para sustentar”, desabafa.

No outro lado de Manaus, Antônio Chagas, 45 anos, morador do bairro Planalto, na Zona Oeste, revela que só o trabalho como borracheiro não dá conta da alimentação. Ele tem esposa e dois filhos, de 10 e 16 anos, respectivamente.

“Houve até um tempo nesse país que a gente conseguia comer. Agora, a gente vende o almoço para comprar a janta. Engraçado que, no bolso desses caras, muitos políticos não mexem, né? Só do trabalhador, que vive cada dia mais miserável. Todos da minha casa dependem de mim. Ganho R$: 10,00, R$: 15,00 por um pneu que eu troco. Não dá para viver assim”, desabafa.

Congelamentos e campanhas

Por conta da alta de preços nas cestas básicas e visando as festas de fim de ano, algumas redes de supermercados já começam a pensar numa forma de secar os estoques, facilitando ao consumidor mais humilde com congelamentos de preços ou campanhas de prêmios.

No grupo Carrefour, por exemplo, todos os preços nos itens de marca própria da empresa foram congelados até 10 de janeiro e terão um selo exclusivo para a identificação do cliente. Segundo a empresa, a ação se justifica pelo delicado momento econômico do país.

“O Carrefour está no Brasil há 46 anos e entende seu compromisso com a população. Sabemos o quão delicado este momento é para todos e, por isso, continuamos trabalhando para que os nossos clientes consigam ter acesso a produtos de qualidade e com um preço acessível”, afirma Joaquim Sousa, diretor comercial do Carrefour Brasil.

Na lista, produtos que passaram por um processo de industrialização como arroz, feijão, macarrão, leite, pães, fraldas, produtos de higiene, proteínas animais (ovos e carnes de frango, bovina e suína), frutas, legumes e vegetais foram contemplados.

O diretor comercial ainda afirma que a medida deve atingir em torno de 4000 produtos. Vale ressaltar que os itens de marca própria representam 18% das vendas líquidas dos alimentos de lojas do grupo.

“Neste momento, o consumidor está procurando mais os produtos. Está fazendo mais contas. Ele busca a melhor cesta, a mais econômica. A marca própria traz qualidade e preços compatíveis’, diz.

Já a rede Assaí Atacadista apostou nas campanhas de fim de ano como a “Feliz Natal e um Saboroso Ano Novo”, sorteando 19 mil kits ‘Boas Festas’ para os clientes, sejam eles consumidores (as) finais ou comerciantes.

O kit vai conter uma ave natalina e um pernil – produtos selecionados especialmente para o momento das ceias dessas festividades. O consumidor vai participar ao fazer compras acima de um determinado valor nas unidades do Assaí.

Comportamento

Apesar do congelamento do preço de itens de cesta básica e campanhas variadas serem escolhas particulares de cada empresa para atrair o consumidor, a tendência pode se espalhar no fim do ano. O Em Tempo entrou em contato com a Associação Amazonense de Supermercados (AMASI) para saber da possibilidade de outras redes no Amazonas aderirem a medidas parecidas.

Apesar de nenhuma outra rede do conhecimento da AMASI ter congelado preços, a associação vai observar se estas medidas vão influenciar no comportamento de outras empresas.

“Mesmo porque, durante a pandemia, foram vendidos mais itens. As pessoas eram obrigadas a ficar em casa e fazer suas refeições em casa. Porém, muitos produtos giravam em torno de commodities, que seguem padrões do mercado internacional. Então, havia muitas vendas, mas poucos lucros para boa parte das redes. Sem contar os trabalhadores do setor que foram linha de frente de um serviço que era essencial. Muitos adoeceram e houve empresas que tiveram de reduzir 70% do quadro no pico da pandemia. Então, vamos observar como vai ser o comportamento no fim de ano com essas ações, que são políticas particulares de cada rede”, explica o superintendente da AMASI, Alexandre Duque.

Pedidos

Os aumentos excessivos no valor da cesta básica foram o palco de muitas discussões em 2020 e neste ano. No âmbito político, o presidente Jair Bolsonaro “meteu a colher”, quando questionado sobre o tema. Em setembro do ano passado, sobre o excessivo aumento do preço do arroz, falou de conversas com autoridades do assunto.

“Conversei com duas autoridades dos supermercados, tá? Na ponta da linha, o preço chega para eles e eles estão se empenhando para reduzir o preço da cesta básica, que dado ao auxílio emergencial, houve 1 pequeno aumento no consumo. Houve mais exportação por causa do dólar também, sabemos disso aí”, disse aos apoiadores na entrada do Palácio da Alvorada e completou que “Os rizicultores, os plantadores de arroz, estavam com prejuízo há mais de 10 anos, mas está sendo normalizado isso aí. Não vamos interferir no mercado de jeito nenhum, não existe canetaço para resolver o problema da economia”, afirmou.

Após o auge da pandemia, Bolsonaro voltou a se pronunciar sobre o assunto, quando questionado em uma rede social sobre os preços.

“Bom dia presidente! Dá um jeito de baixar o preço da cesta básica porque tá ficando difícil”, disse um homem no Facebook.

A resposta foi “Reconheço a alta, contudo estamos vivendo as consequências do “Fique em casa que a economia a gente vê depois”, rebateu o presidente.

Ponto Positivo

Na avaliação do economista Orígenes Martins, o consumidor está numa espécie de “encruzilhada” em relação aos preços da cesta básica e retomada da economia.

“Com os preços variando para cima, geralmente, e o governo anunciando uma retomada na economia e o mundo numa espécie de ‘gangorra’. Uma parte, falando em crescimento e a outra com problemas seríssimos por causa de uma possível nova onda do coronavírus”, afirmou.

No entanto, o especialista acredita serem positivas as ações implementadas por algumas empresas no fim de ano.

“Nós temos dois aspectos que precisam ser considerados. Em primeiro lugar, determinadas empresas não estão conseguindo vender seus estoques e uma das políticas seria a promoção ou, nesse caso, congelamento de preços. Por um lado, vai ajudar, e muito, a população, pois não provoca aumento de inflação. Então, isso é ótimo para o consumidor. Principalmente, para aquele que é cliente daquela empresa. Por outro lado, o empresário vai ter mais um motivo para vender seus estoques, porque não está sendo fácil para determinadas empresas vender seus estoques e repor o capital investido. Com certeza, num mercado tão competitivo como o de supermercados, isso leva os concorrentes a fazer promoções iguais ou bastante parecidas e, no final das contas, quem sai ganhando é o consumidor. E, no momento, em que nós estamos nessa crise de renda, quem está precisando de preços menores ou, pelo menos, não crescentes é o consumidor. Vamos torcer para que medidas iguais a essas ou melhor que essas acabem surgindo”, explicou.

Fonte: emTempo

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