Com óticas ‘a perder de vista’, clientes são disputados ‘no braço’ em Manaus

(Foto: Teófilo Benarrós de Mesquita)

Quem precisa de óculos não tem dificuldade para enxergar óticas em Manaus. Elas estão por toda parte. Em algumas ruas, se enfileiram uma ao lado da outra. Com tanta oferta, não basta ver o consumidor, é preciso disputá-lo. Em algumas ruas a abordagem é intensa e os clientes são puxados pelo braço.

Uma vendedora, sob condição de anonimato, diz que “há registro de brigas” entre trabalhadores do setor nas ruas do Centro onde têm mais lojas. Os preços de óculos variam entre R$ 150 e R$ 199, incluindo armação simples e de 0,25 a 2 graus. Quando a lente exige tratamento ou tecnologia, e o usuário escolhe armação mais sofisticada, os valores chegam a R$ 2,5 mil, em média, nas lojas mais populares.

A Jucea (Junta Comercial do Estado do Amazonas) e a Sefaz (Secretaria de Fazenda do Amazonas) divergem sobre o número de estabelecimentos em funcionamento na capital. A Jucea registra 2.879 óticas cadastradas. A maior parte (1.861) está em Manaus. Números da Sefaz são mais modestos. Tendo por base o comércio varejista de óticas com situação cadastral ativa, são 701, sendo 98 nos municípios do interior do estado e 603 em Manaus. A fonte das informações da Sefaz é o GCC (Gestão de Cadastro de Contribuintes).

A Rua Rui Barbosa, no Centro tem 217 metros de extensão, de acordo com o Implurb (Instituto Municipal de Planejamento Urbano). E possui 43 óticas em funcionamento. Há mais de uma unidade da mesma loja na via. As Óticas Americanas têm 34 pontos físicos no estado – quatro são na Rui Barbosa e outros dois nas proximidades.

O setor gera empregos para vendedores, panfleteiros e locutores. “É comum ter briga entre panfleteiros e vendedores pelos clientes”, diz uma funcionária de ótica na esquina das ruas Henrique Martins e Rui Barbosa. Os panfleteiros são contratados com pagamento por diárias, em média R$ 50. Nem todas as óticas têm panfleteiros. Algumas colocam os próprios vendedores para abordar o cliente, que são puxados pelos braços.

Rua com óticas uma ao lado a outra: alta demanda (Foto: Teófilo Benarrós de Mesquita)

Os clientes abordados pela reportagem não quiseram se pronunciar. Alguns alegavam pressa; outros simplesmente se recusaram a falar.

Fernanda Freitas é vendedora das Óticas Americanas há um ano. Em dias de bom movimento ela consegue atrair entre 12 e 15 clientes. “A maioria compra. A média é entre 10 e 12 clientes que finalizam a compra por dia, quando o movimento está bom”, diz.

Fernanda não tem local de trabalho fixo e pode ser escalada para qualquer uma das unidades da empresa em Shoppings e bairros de Manaus. “Tem dia que estou no Zumbi [dos Palmares], no Nova Cidade, na 24 de Maio [Rua, no Centro da cidade]. A melhor que tem para conseguir clientes é a unidade da [Avenida] Eduardo Ribeiro”, diz.

O trabalho de Fernanda é um pouco facilitado pelo preço praticado, o mais barato encontrado entre as dezenas de óticas da Rua Rui Barbosa: R$ 150 reais o óculos com armação simples e lentes de graus 0,25 a 2. “A gente tenta convencer o cliente a comprar óculos escuros também”, revela. Outras lojas oferecem promoções de óculos por R$ 180 e R$ 199.

Também funcionário das Óticas Americanas, o locutor comercial Janderson Rodrigues trabalha no ramo há 8 anos, sempre nas portas das lojas. Segundo ele, o Centro, Manôa e ruas comerciais na zona leste são os pontos com maior fluxo de clientes. As informações conferem com as fornecidas pela Sefaz. “Em dias bons, entram nas lojas entre 50 e 60 clientes. Os que compram giram em torno de 20 ou 30”.

Pelas observações de Janderson, o público consumidor fica entre 40% e 50% dos que pesquisam produtos. “Antigamente a maior procura era por pessoas acima de 35 anos. Agora recente os jovens tem procurado mais as óticas”, diz.

“A procura por óculos de uns cinco anos para cá tem aumentado e a tendência é crescer ainda mais, devido ao uso contínuo de aparelhos eletrônicos como celular e televisões. Eu já li uma pesquisa que diz que até 2040, 78% da população mundial vai precisar de auxílio de óculos, por esse motivo”, afirma.

Óticas na Rua Rui Barbosa: popularização do produto gerou queda de preços (Foto: Teófilo Benarrós de Mesquista/ATUAL)
Óticas na Rua Rui Barbosa: popularização do produto gerou queda de preços (Foto: Teófilo Benarrós de Mesquista)

Há um estudo publicado em 2016 no Opthalmology Journal. E os números certos indicam que cerca de 4,8 bilhões de pessoas precisarão utilizar óculos em 2050, o que vai corresponder a 50% dos habitantes estimados para a época. A necessidade vai afetar pessoas que passam muito tempo em frente ao computador e televisão ou no uso de celulares e tablets. Em 2010 o número era de apenas 2 bilhões de afetados, ou cerca de 28,3% da população mundial.

Óticas a perder de vista

A quantidade de lojas de óculos na área central de Manaus chama tanta atenção, que até quem trabalha no local tem a curiosidade aguçada. “São 140 lojas, se consideramos as que funcionam na Henrique Martins e na Sete de Setembro. Eu já contei”, diz o comerciário Iuri Jesus, de 28 anos, que trabalha na Ótica Safira Sato. Só na galeria Marupyara, na Rua Rui Barbosa, número 184, são seis óticas à disposição dos clientes.

Os cálculos de Iuri levam em conta outras vias da área central. Na Rua Saldanha Marinho, quarteirão entre a avenida Getúlio Vargas e a Rua Rui Barbosa, existem outras 14 óticas. Na Henrique Martins, são mais 14 lojas, sendo sete dentro de uma única galeria comercial. E na Avenida Sete de Setembro, logo após o cruzamento com a Rui Barbosa, em menos de 100 metros de extensão, mais 7 óticas.

O número real, de acordo com a Sefaz, é de 199 óticas no Centro, 33% das existentes em Manaus.

A segunda região da cidade com maior concentração é o bairro Cidade Nova, na zona norte, com 52 unidades, 9% do total. A maioria está instalada na rua Francisco Queiroz, no Conjunto Manôa.

O terceiro maior polo de óticas está no bairro São José Operário, zona leste, onde funcionam 31 lojas, correspondente a 5%.

Em 2021, o setor faturou R$ 131.709.667,05. As óticas recolhem PIS, Cofins e Imposto de Renda sobre o faturamento. No âmbito estadual, contribuem com ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). O recolhimento de ICMS em 2021 foi de R$ 12.764.845,35, conforme dados da Sefaz.

Rua Rui Barbosa tem 43 óticas.

AMAZONAS ATUAL

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