MANAUS – O Rio Negro deve atingir 29,4 metros de profundidade na orla de Manaus no pico da cheia em 2022. Essa cota é estimada com 80% de confiança, segundo o boletim do CPRM (Serviço Geológico do Brasil) divulgado nesta quinta-feira (31). A marca de intervalo [antes de chegar à marcação máxima] deve ficar entre 28,7 m e 30,1 m. Nesta quinta-feira, a profundidade do rio no Porto de Manaus é 27,16 m. A pesquisadora do CPRM Luna Gripp afirma que em 94% das vezes, as cotas máximas ocorreram entre junho e julho.
Luna Gripp diz que ainda há um tempo razoável até junho e esse percentual de certeza pode variar. “A ideia é sempre trazer um intervalo bem amplo para a gente conseguir não desinformar”, disse. “E aí considerando 80% de confiança diminui bem a nossa chance de errar. Por isso esse intervalo tão alto. A partir do momento que o mês vai passando, em abril a gente já tem um intervalo de confiança menor, ou seja, uma maior facilidade de acerto nesse valor”.
A probabilidade de atingir a cota de inundação, que é de 27,5 metros, é de 99%. Já a chance de alcançar a cota de inundação severa, de 29 metros, é de 78%. Quanto à máxima histórica de 2021, que foi de 30,02m, as chances são de 12%
“Esse ano tem grande probabilidade de ocorrer um evento extremo, mas ao mesmo tempo a probabilidade de superar o nível do rio que a gente observou ano passado é bem baixa”, disse Gripp.
O CPRM emite três alertas. O primeiro foi nesta quinta-feira. Os próximos estão previstos para 29 de abril e 31 de maio. O sistema de alerta atende Manaus, Manacapuru e Itacoatiara, estes dois últimos, inseridos na previsão desde o ano passado.
Gripp explica que embora sejam municípios diferentes, por estarem localizados em uma região plana e com volumes grandes de água, a variação do nível de um dos rios acaba afetando o outro. “Então, quando a gente fala que Manaus tem uma certa previsão é muito provável que aquele evento, de uma magnitude muito similar, aconteça também em Manacapuru, Careiro da Várzea, Careiro Castanho, Iranduba, que são municípios no entorno”, disse.
“Então a gente estendeu numericamente as previsões para Manacapuru no [rio] Solimões e Itacoatiara no [rio] Amazonas, mas o que a gente disser aqui em termos de evento que a gente espera acaba valendo para todos os municípios da região nos grandes rios”, completou.
Chuvas
Ricardo Dallarosa, meteorologista do Sipam (Sistema de Proteção da Amazônia), explica que o fenômeno La Niña induz a formação de nuvens e a precipitação havendo umidade, o que estimula as chuvas no Amazonas.
De acordo com o meteorologista, essa umidade vem do Oceano Atlântico, influenciada pelas temperaturas quentes. “Basicamente, a umidade disponível aos processos convectivos e a precipitação na Amazônia ela vem do Oceano Atlântico”.
Dallarosa explica que no primeiro trimestre deste ano as águas do Atlântico mantiveram temperaturas quentes. “Ou seja, não há que se esperar que nós vamos ter um encerramento do La Niña num futuro muito breve”, disse.
No boletim de março-abril-maio de 2022, o meteorologista informa que deve ser manter a condição de chuvas acima do normal. O boletim contendo a previsão para junho, quando normalmente ocorre o pico da cheia, ainda será disponibilizado.
Comportamento dos rios
Renato Cruz Senna, pesquisador do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), afirma que a avaliação do comportamento das chuvas começou em novembro de 2021, período que representa o início da estação chuvosa em boa parte das bacias que formam os rios Negro e Solimões. “Esse novembro de 2021 foi caracterizado por chuvas ligeiramente acima dos padrões climáticos em grande número nas bacias localizadas no estado do Amazonas”, informou.
Senna explica que imagens de satélite mostram que em dezembro de 2021 as bacias que formam o Rio Solimões tiveram muitas chuvas. Em janeiro deste ano a situação se inverteu, houve déficit pluviométrico em quase todas as bacias monitoradas sobre o Amazonas. Mas em fevereiro, houve uma nova mudança nos padrões de precipitação, com alternâncias entre áreas com muitas e poucas chuvas no estado.
Já em março deste ano, Senna diz grande parte das bacias localizadas na área central, no norte da área monitorada, foram caracterizadas por terem recebido mais chuvas.
Segundo o meteorologista, houve um forte crescimento dos volumes pluviométricos em fevereiro e março deste ano no Rio Branco. “O Rio Branco, principalmente nos dois últimos meses, tem apresentado volumes de precipitação muito expressivos e um comportamento completamente distinto em relação ao ano passado, quando os máximos naquela bacia ocorriam em novembro e janeiro do ano de 2021”, informou.
Da mesma forma o Rio Negro. “A gente observa também que o Rio Negro durante o mês de fevereiro e março tem se apresentado com chuvas bem acima da climatologia desses dois meses agora de 2022”.
O monitoramento também inclui os rios Marañon, Ucayali, Napo, Javari, Içá, Jutaí, Juruá, Japurá, Purus e Solimões. “O ano de 2021 também apresentou alguns excessos de precipitação principalmente no mês de janeiro para a bacia do Solimões e depois novamente no mês de março”, disse Senna. Mas ele afirma que em março deste ano, o registrado de chuvas para a bacia do Solimões foi menor se comparado ao ano passado.
FONTE: AGENCIA AMAZONAS