PF combate garimpo ilegal em terra Yanomami e encontra até barbearia

Na última terça-feira (29), a Superintendência da Polícia Federal em Roraima deflagrou operação Omama para combater o garimpo ilegal na terra indígena Yanomami. O espaço demarcado é o maior do Brasil e faz fronteira com o Amazonas entre os municípios de São Gabriel da Cachoeira e Santa Isabel do Rio Negro. A procura por ouro na terra indígena tem criado um clima de tensão na região, especialmente para os indígenas donos das terras, que têm sofrido ameaças e até ataques por parte dos garimpeiros.

A Polícia Federal de Roraima informou que ainda não irá se manifestar sobre a operação, porque o trabalho está em andamento. No entanto, informações divulgadas pelo órgão dão conta que, em três dias de operação, seis acampamentos de garimpeiros foram destruídos. Nenhum dos invasores foi preso, porque, segundo a PF, fugiram antes para a floresta.

Durante a operação, os policiais federais também apreenderam três motores utilizados por garimpeiros e 2,5 mil litros de óleo diesel. Em uma das imagens divulgadas, é possível identificar até mesmo um espaço onde funcionava uma barbearia improvisada.

Em apoio à PF, participaram da ‘Omama’ a Fundação Nacional do Índio (Funai), Exército, Força Aérea Brasileira (FAB), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e FNSP.

Ameaça contínua

Os perigos do garimpo na terra indígena Yanomami ganharam maior atenção em 10 de maio, quando garimpeiros invadiram a comunidade Palimiú e atiraram contra indígenas, inclusive mulheres com crianças. Para se proteger, indígenas revidaram com flechas e espingardas. Ao menos cinco pessoas ficaram feridas (quatro garimpeiros e um Yanomami).

Indígenas da comunidade ouvidos pela agências de notícias Amazônia Real disseram que o ataque pode ter iniciado como uma retaliação à barreira sanitária que construíram há seis meses às margens do rio Uraricoera, em Alto Alegre. A obra foi feita para impedir o avanço do garimpo.

Segundo a Hutukara Associação Yanomami (HAY), há cerca de 20 mil garimpeiros na terra indígena. Esse número cresceu nos últimos anos e já está próximo da população de Yanomami na área, que soma 27 mil moradores em 370 aldeias.

“Os garimpeiros continuam sujando os rios, se organizando e ameaçando nossos parentes. Está do mesmo jeito. Já fizemos muito barulho sobre os invasores e a retirada deles e agora estamos esperando que essas operações façam a diferença no território, porque os indígenas estão vivendo limitados”, comenta Dário Yanomami, vice-presidente da HAY.

A corrida pelo ouro na terra Yanomami começou a ganhar força ainda nos anos 80, segundo o Instituto Socioambiental (Isa). Naquele período, 20% da população indígena morreu por doenças trazidas por garimpeiros. O território só viu alguma paz quando, em 1922, foi demarcado. No entanto, os invasores voltaram nos anos seguintes e estão até hoje.

“Eu ainda não posso dizer se com essas novas operações o problema vai ser resolvido, porque a polícia ainda está trabalhando. Mas não é fácil acabar com o garimpo, porque há um alto custo para pagamento de oficiais e transporte na região. Isso é o que o governo federal diz”, explica Dário.

De acordo com o vice-presidente da HAY, as associações indígenas têm se comunicado diretamente com o Ministério Público Federal, a Polícia Federal, o Exército e a Fundação Nacional do índio (Funai).

Essa movimentação é para que o governo federal retire os garimpeiros da terra Yanomami. Estamos até mesmo fazendo articulações internacionais para que outros países também pressionem o Brasil para isso ser resolvido

Dário Yanomami, vice-presidente da HAY

 

Mineração é defendida pelo governo

A pauta do garimpo em terras indígenas fez parte da campanha presidencial de Jair Bolsonaro, durante as eleições. Hoje, enquanto chefe do Executivo, ele não esconde o desejo de legalizar a prática ilegal.

“Não é justo, hoje, querer criminalizar o garimpeiro no Brasil. Não é porque meu pai garimpou por um tempo. Nada a ver. Mas, no Brasil, é muito bacana o pessoal de paletó e gravata dar palpite em tudo que acontece no campo”, disse o presidente no dia 14 de maio deste ano.

O sonho de Bolsonaro não se limitou às falas. Em fevereiro de 2020, o governo federal apresentou o Projeto de Lei 191/2020, que cria mecanismos para ser liberada a mineração e o plantio de sementes transgênicas em terras indígenas, bem como a construção de hidrelétricas e projetos de petróleo, de gás e turismo

Atualmente o PL aguarda criação de comissão temporária que analise a proposta e está entre as prioridades do governo federal. 

A importância do projeto foi revelada pelo site Valor Econômico, que teve acesso a uma lista de ‘Projetos Prioritários na Câmara dos Deputados’, enviado por Bolsonaro à Arthur Lira (PP-AL), quando este assumiu a presidência da casa, em fevereiro deste ano.

Defesa do territórios

Em nota para esta reportagem, a Fundação Nacional do Índio (Funai) informou que “permanece realizando as atividades de sua atribuição Bases de Proteção Etnoambiental (Bapes) da Terra Indígena (Ti) Yanomami e acompanha o caso junto à comunidade indígena”.

As estruturas ativas de proteção são as Bapes Serra da Estrutura, Walo Pali,  Xexena e Ajarani. De acordo com a Funai, todas essas unidades são responsáveis por ações permanentes e contínuas de proteção, fiscalização e vigilância territorial, além de coibição de ilícitos, controle de acesso, acompanhamento de ações de saúde, entre outras atividades.

Fonte: Em Tempo

Foto: Divulgação PF

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