Nintendo mudou profissão de Super Mario para encanador há 35 anos

Sou eu, o Mario!

Em 1985, um encanador italiano baixinho se tornou a cara dos videogames e mudou a maneira como jogamos.

“Super Mario Bros.” colocou os personagens principais do jogo, Mario e Luigi, pulando pelo Reino dos Cogumelos, coletando moedas e correndo para salvar uma princesa do Bowser, uma tartaruga malvada. O conteúdo estava muito longe do jogo simplista da cobrinha ou de “Pac-Man”, cujo objetivo era comer e permanecer vivo.

Para celebrar o 35º aniversário da franquia (completado em 13 de setembro), a CNN Business conversou com quatro desenvolvedores da Nintendo que trabalharam por décadas na franquia Super Mario Bros sobre como a empresa cresceu e criou aquela que é indiscutivelmente a série de maior sucesso de jogos — e ganhou vários bilhões de dólares. A Nintendo não comentou números de vendas.

Mario nasceu como carpinteiro no jogo de fliperama “Donkey Kong” de 1981. O jogo já era avançado para a época, com efeitos de som acompanhando as peripécias de Mario atravessando plataformas desafiadoras para salvar Pauline. A Princesa Peach (que se chamava Princesa Toadstool na versão inicial norte-americana, seguindo o tema dos sapos, toads em inglês) apareceu pela primeira vez em “Super Mario Bros.” quatro anos depois.

Na época, os videogames geralmente eram criados por engenheiros de computação, ao contrário dos artistas de hoje, conforme contou Shigeru Miyamoto, designer de jogos e produtor de “Super Mario Bros.” e “Donkey Kong”, à CNN Business.

“Eu tentei usar a tecnologia disponível na época para produzir um personagem de aparência distinta a partir de um pequeno número de pixels, e isso resultou no Mario”, disse Miyamoto.

Perguntado sobre o motivo desse engenheiro e artista japonês escolher um encanador ítalo-americano de Nova York como protagonista, Miyamoto disse: “Queríamos que ele fosse alguém que morasse perto de você, e não um super-herói”.

A popularidade do jogo realmente disparou em 1985, quando “Super Mario Bros.” foi lançado. A essa altura, Mario havia se transformado em encanador trabalhando nos esgotos de Nova York. Miyamoto disse que, assim como os artistas de mangá de sua geração que povoam seus quadrinhos com os mesmos personagens, ele colocou Mario em muitos jogos diferentes.

“As pessoas nunca tinham visto um jogo como ‘Super Mario Bros.’”, lembrou Frank Cifaldi, codiretor da Video Games History Foundation. Apesar de ter as mesmas restrições que outros jogos, o jogo “Super Mario Bros.” Conseguia transmitir uma aventura épica em um mundo enorme. O dia se transforma em noite conforme você avança. Você cruza pontes para chegar em novas terras”.

Segundo Cifaldi, o jogo da Nintendo mudou a maneira como se joga: as pessoas saíram da estratégia típica de fliperama, que era de simplesmente conseguir uma pontuação alta, para jogar experimentando uma aventura e indo até o fim.

Para comemorar o 35º aniversário de Super Mario, no início de setembro, a Nintendo revelou um novo jogo centrado em Mario que será lançado nos próximos meses. Há “Super Mario 35”, para o Switch. Outros novos títulos exploram a nostalgia de Mario com títulos clássicos renovados e ao mesmo tempo experimentam novos formatos, como realidade aumentada e uma linha de brinquedos da vida real.

Se Mario fosse realmente um homem de 35 anos, e não o de 26 que ele sempre terá no jogo, seu criador Miyamoto o encorajaria a continuar “vivendo de uma maneira na qual ser fiel a você mesmo é mais agradável do que estar em competição com os outros”.

Mais um conselho do criador: “Mario, você vai se manter muito ocupado, então não se esqueça de malhar e de manter o bigode bem cuidado”.

Cada novo jogo do Mario foi ficando mais sofisticado conforme a tecnologia dos videogames avançava. Em “Super Mario 64” de 1996, por exemplo, o homenzinho chegou ao 3D pela primeira vez, desafiando os jogadores a pisar nos inimigos em um espaço tridimensional. As evoluções seguintes enviaram Mario ao espaço sideral e deram aos fãs maneiras de projetar seus próprios níveis de jogo.

O pacote comemorativo é robusto. Na sexta-feira (18), a Nintendo lançou “Super Mario 3D All-Stars”, uma compilação de três dos jogos mais modernos da franquia: “Super Mario 64”, “Super Mario Sunshine” e “Super Mario Galaxy”, com gráficos aprimorados para o console Switch. A Nintendo está produzindo os novos produtos como uma tiragem limitada, e, portanto, eles estarão disponíveis até 31 de março. A Nintendo também vai lançar o já mencionado “Super Mario Bros. 35”, disponível entre 1º de outubro e 31 de março.

“Espero que as pessoas que jogaram esses jogos antes os joguem novamente, como eu estou fazendo. Isso não só traz de volta algumas memórias nostálgicas, como também permite que a gente descubra muitas coisas divertidas que ainda não sabia”, afirmou Kenta Motokura, que dirigiu “Super Mario Odyssey” e produziu “Super Mario 3D All-Stars”.

Ao longo de 35 anos, Mario evoluiu de um carpinteiro de 8 bits em “Donkey Kong” para um encanador em alta resolução em “Super Mario Odyssey” de 2017, no qual anda de motocicleta e se transforma em seus inimigos com o arremesso de seu boné, Cappy.

“Não importa em que mundos viva, Mario continua sendo Mario. Talvez isso seja estranho, mas acho esse fato muito reconfortante “, disse Yoshiaki Koizumi, que produziu “Super Mario 3D Land” e “Super Mario 3D World”, entre outros.

Mario também se tornou parques temáticos, incluindo o Super Mario World no Japão e um em Hollywood que ainda está em construção. Segundo Miyamoto, os parques são parte de uma estratégia para dar aos jogadores diferentes experiências interativas. Uma delas é o “Super Mario Bros. 35”, o jogo interativo.

O designer Motokura lembra que, mesmo tendo personagens recorrentes, a Nintendo se esforça para tornar o conteúdo de cada jogo diferente e novo.

Os jogos também devem ser cheios de ação, disse Takashi Tezuka, diretor e produtor dos jogos em 2D de Super Mario. “Basicamente vale tudo se o jogo for divertido”.

Os desenvolvedores têm o cuidado de permanecer fiéis à marca, pensando em sua história e futuro, disse ele.

O sucesso da Nintendo teria sido mais difícil de alcançar se não fosse o declínio da Atari em meados dos anos 80, que lutou para encontrar jogos de sucesso após os mais primitivos “Pong” e “Pac-Man”.

A decadência da marca foi um sério revés para a fabricação de videogames nos Estados Unidos, como conta Laine Nooney, professora assistente e historiadora de videogames na Universidade de Nova York. Mas foi um impulso também. “Isso deu à Nintendo a oportunidade de reformular o que os videogames eram. É importante ressaltar que eles não eram computadores: eram brinquedos. E não havia jogo mais divertido do que ‘Super Mario Bros.’ da Nintendo”.

À medida que a Nintendo se adaptou ao surgimento dos jogos para celular, Mario abriu seu caminho para os smartphones. Jogos como “Super Mario Run” e “Dr. Mario World” aproveitam os controles simples e a distribuição nas lojas de aplicativos da Apple e do Google.

“Para todos os críticos que dizem que os videogames estão cheios de violência e banhos de sangue, o bigodudo Mario continua sendo a face mais identificável globalmente da indústria de videogames”, disse Nooney.

Fonte: CNN Business

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