Os vereadores de Manaus concordam que o Estado é ausente em determinadas regiões da Amazônia e que, por isso, grupos criminosos tomam conta desses locais. No entanto, afirmam que a declaração da cantora Anitta de que a Amazônia é “uma grande terra de ninguém” foi “infeliz”, “mentirosa” e “irresponsável”.
Em sessão da CMM (Câmara Municipal de Manaus) nesta terça-feira (28), os parlamentares dedicaram 35 minutos para comentar as declarações da cantora. O vereador Peixoto (Pros) apresentou um requerimento verbal de moção de repúdio à cantora e o pedido foi subscrito por outros seis vereadores.
No domingo (26), antes de subir no palco do Rock In Rio Lisboa, Anitta foi questionada por jornalistas sobre a importância de manifestações políticas e respondeu que a Amazônia “é uma grande terra de ninguém” e que “quem se expõe para falar acaba morto”, em referência aos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips.
Na Câmara de Manaus, a discussão começou quando Sassá da Construção Civil (PT) alegou que a fala de Anitta estava correta “em parte”. “Ela falou besteira. Mas tem partes no Amazonas que é do jeito que ela fala, é terra sem lei mesmo. Tem parte no Amazonas que é terra sem lei, quem manda lá é os garimpeiros e traficantes”, disse o vereador.
Para Sassá, ela deveria ter falado que o problema ocorre em algumas cidades. “Ela errou na parte quando ela falou que o Amazonas é terra sem lei. O Amazonas é grande. Ela tem que falar que algumas cidades no Amazonas que é terra sem lei”, afirmou o petista. Anitta não citou especificamente o estado do Amazonas, mas a região Amazônica.
O vereador Bessa (Solidariedade) afirmou que o governo federal, na gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL), “virou as costas para a Amazônia” e que a região é “terra sem lei”, pois “os garimpeiros tomaram de conta”. Mas, apesar de apenas reforçar o que disse a cantora, o parlamentar alegou a fala da cantora é “a verdade”, mas foi “infeliz”.
“Infelizmente, muitos bolsonaristas não gostariam de ouvir o que eu vou dizer, o governo federal, o presidente Bolsonaro virou as costas para a Amazônia. A Amazônia é terra sem lei, os garimpeiros tomaram de conta das nossas regiões. O contingente da Polícia Federal é pequeno, o Exército que poderia dar o auxílio, infelizmente, não faz”, disse Bessa.
O vereador aproveitou o momento para protestar contra o governo federal. “Eu fico indignado quando esse cidadão chega aqui em Manaus e não traz um papel para assinar. ‘Está aqui, vou destinar R$ 1 milhão pra cidade, R$ 500 milhões, R$ 1 bilhão’. Não vem. Ele vem aqui, faz uma firula. É igual golfinho, faz uma graça e mergulha”, afirmou Bessa.
O discurso contra Anitta ganhou apoio do vereador Carpê Andrade (Republicanos), que alegou que Anitta “não tem conhecimento de causa” e “nunca fez nada pelo povo do Amazonas”. O vereador disse que o governo federal tem investido em segurança pública e citou ações do Governo do Amazonas como exemplo.
O vereador William Alemão (Cidadania) disse que, na região Amazônica, existem “áreas longínquas, quase não habitadas, e que ali onde o estado não chega” e que “o estado paralelo chega”. Para ele, isso “é um fato”, mas ele não vai admitir que alguém diga para ele que Anitta falou com conhecimento de causa.
Peixoto, o autor da proposta de moção de repúdio à Anitta, afirmou que evitaria falar o nome dela para “não dar brinde” à artista. “Quero aqui reverberar e repudiar a fala e o discurso da cantora que tem o nome de remédio para verme. Não vou falar o nome dela aqui para não dar brinde para essa senhora”, afirmou o parlamentar.
Para ele, apesar de existir problemas sobre segurança pública na região Amazônica, a fala de Anitta foi “genérica”. “Ela foi infeliz, mentirosa, irresponsável porque optou por uma coisa que eu não gosto. Ela optou pela generalização. Toda vez que você opta pela generalização você corre um sério risco de incorrer em erro”, afirmou o vereador.
“Ninguém vai tapar o sol com a peneira, que não existem problemas na nossa Amazônia, mas esta senhora deve saber que a Amazônia brasileira perfaz nove estados brasileiros. Quando ela fala que ‘é uma grande terra de ninguém, uma grande bagunça, lá acontece de tudo e ninguém vê nada’, isso é uma inverdade, uma mentira”, completou Peixoto.