Dia da Amazônia é marcado pela luta para a sobrevivência do bioma

Especialistas afirmam que a data possui extrema relevância para relembrar ao mundo a importância da preservação da Amazônia, berço de uma grande biodiversidade

Manaus – Comemorado neste dia 5 de setembro, o Dia da Amazônia reforça a atenção que a população brasileira deve ter com este bioma, que vem sendo constantemente ameaçado pelas queimadas, pelo desmatamento e pela falta de investimento governamental para sua preservação. O doutor em ecologia, conservação e manejo de vida silvestre, áreas protegidas e bacias hidrográficas, Rogério Fonseca, explica  sobre a importância do bioma globalmente, pela grande biodiversidade da região.

“O bioma amazônico tem a importância, principalmente, por ser um grande prestador de serviços ecossistêmicos para a região do continente americano. Mas a significância da região amazônica é global, isso é incontestável, porque aqui a gente tem sim armazenada uma parcela muito grande da biodiversidade do planeta e ainda coisas que a gente não conhece. Nós temos que conhecer melhor o bioma amazônico. Uma data como essa lembra que o planeta terra tem compromissos com o Brasil, em ter destinação de recursos para que a gente conheça melhor esse bioma”, explica o biólogo.

A Amazônia é o maior bioma brasileiro, com um território de quase 4.196.943 milhões de quilômetros quadrados. Nela já foram catalogadas mais de 30 mil espécies de plantas e 2.500 espécies de árvores, compondo um terço de toda madeira tropical do mundo. O seu principal rio, Amazonas, corta a região para desaguar no Oceano Atlântico. 

O biólogo explica que as políticas públicas voltadas à preservação da Amazônia devem atender as especificidades de cada estado que abrange o bioma e que, a partir disso, as questões políticas, administrativas, culturais e ecossistêmicas sejam também atendidas. Hoje o que mais se vê são sobreposições e sombreamentos de políticas públicas que acabam se anulando e resultando em nenhuma ação. 

No último dia 11 de  agosto, o presidente Jair Bolsonaro manifestou, em discurso durante a 2º Cúpula Presidencial do Pacto de Letícia da Amazônia, a “história que Amazônia arde em fogo é uma mentira”. No dia 31, Hamilton Mourão, vice-presidente, pediu que os outros países integrantes do Brics (Rússia, Índia, China e África do Sul) fizessem investimentos na região e, um dia depois, teve seu discurso barrado pelo presidente que afirmou que só aceitaria investimentos dos países que tivessem os mesmos ideais de democracia e liberdade que o Brasil.

Diversas instituições não-governamentais lutam, constantemente, para prevenir o avanço dos problemas ambientais que põem em risco a biodiversidade da região, como a a fintech ecológica UzziPay, que conta com uma área de 700 hectares de reserva legal na Amazônia e propõe conservar uma árvore da floresta a cada novo cliente, além de manter um monitoramento constante para sua preservação. A reserva está localizada na cidade de Porto Velho, em Rondônia, estado que abriga o maior número de povos indígenas no Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“A área é monitorada por meio de um acordo com a fintech e a propriedade, promovendo um modelo de manejo florestal ecológico, no qual as espécies vegetais selecionadas privilegiem o equilíbrio e a conservação de todo o bioma local. Para realizar a conservação do espaço, o projeto da UzziPay prevê a proteção da área contra depredação, exploração ilegal, degradação e queimadas criminosas. O monitoramento da reserva legal é feito por solo, drone ou voos tripulados sobre o local e por imagens de satélite”, explica Márcio Barnabé, Chief Marketing Officer da empresa.

A confusão que o governo federal faz, entre uma declaração e outra, atrasa as ações que poderiam impedir o avanço de problemas ambientais como as queimadas, que já afetaram mais de 17 mil km² de mata no Pantanal, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Dados do Inpe informam ainda que já houve mais de 1.034 km² de desmatamento na Amazônia apenas em junho desse ano e, no acumulado do semestre, mais de 3.069 km² foram afetados, um aumento de 25% em comparação ao mesmo período de 2019. 

Para o biólogo e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Phillip Fearnside, a atuação governamental é importante para mostrar à população que o desmatamento ilegal, por exemplo, pode trazer consequências aos envolvidos.

“Importante tanto para o desmatamento como para as queimadas é o atitude anti-ambiental do governo federal, não apenas por ter desmantelado o Ibama em grande parte, mas também pela retórica que passa uma mensagem clara às pessoas na frente de desmatamento de que não há consequência para violar leis ambientais. É reconstruir tudo que foi desmontado na área ambiental e depois fortalecer esta área mais ainda. Além de reprimir o desmatamento e as queimadas, também precisa parar as muitas ações das diversas partes do governo que levam a mais destruição na Amazônia”, defende Fearnside.

Outro fator a se considerar é que atividades ilegais relacionadas a exploração irregular de madeira e ao garimpo também têm influência ativa na devastação, e muitas vezes ocorrem em áreas proibidas como terras indígenas, unidades de conservação e Áreas de Preservação Permanente, de acordo com o MapBiomas Alerta.

Para os brasileiros, as principais consequências do desmatamento são a ameaça a biodiversidade, constituída pela fauna e flora, e aquecimento global, com 34% e 25%, respectivamente, segundo pesquisa do Observatório FEBRABAN. A pesquisa também mostra que 83% da população está insatisfeita com os atuais esforços do Brasil para preservar a região. 

“A preocupação é que nós, que moramos e trabalhamos na região amazônica, gostaríamos de estar participando desses processos de planejamento de operações. Hoje, a maior deficiência que Brasília tem em relação à Amazônia é que nós não estamos compondo o Conselho da Amazônia. Nós moramos na região amazônica e entendemos de todas as matizes da questão cultural, socioeconômica e pessoal do amazônida”, conta Rogério. 

Ações de monitoramento têm como foco principal o combate ao desmatamento e a preservação da biodiversidade da Amazônia, já que a região abriga mais de 73% das espécies de mamíferos e 80% das de aves existentes no território nacional. Estima-se, ainda, que nas águas amazônicas estão 85% das espécies de peixes de toda a América do Sul, de acordo com o Instituto Brasileiro de Florestas.

A região também é o berço de milhares de espécies de árvores e plantas, e exerce importante papel nas áreas de pesquisas de novos medicamentos, soluções cosméticas e alimentícias, além de influenciar ativamente a regulação climática mundial. Acredita-se, ainda, que o bioma concentra inúmeras espécies de insetos, animais e plantas desconhecidas pelo homem.

No dia 28 de agosto, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) informou que as operações de combate ao desmatamento ilegal e às queimadas prosseguirão, já que os recursos (que somam R$60,7 milhões) foram desbloqueados. O montante em questão é de verbas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), R$39,7 milhões, e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), R$20,9 milhões.

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